A primeira é para Leonardo Chioda, que tive o prazer de conhecer, embora muito rapidamente, no lançamento de seu livro de poesias "Tempestardes", na Casa das Rosas, em São Paulo. Além de esmerado escritor, que trabalha uma poesia de virtuose simbólica e visível rigor formal, Léo é também renomado tarólogo, e a despeito da brevidade do encontro, típico dos coquetéis e das sessões de autógrafos, demonstrou grande simpatia e receptividade, fazendo-me uma dedicatória no mínimo intrigante:
"para o André, arcano que reencontro agora".
Ora, esta idéia de reencontro, diante de uma pessoa que se vê em tese pela primeira vez, deu-me um bocado o que pensar. Ela sugere um outro entendimento temporal, como se os eventos e encontros que experimentamos fossem simultaneamente espelho e reflexo de uma memória cosmológica e não-linear do tempo. Gosto de entender e tentar viver o tempo desta maneira, circular e espiralado, em dimensões que se entrelaçam de forma indefinida e misteriosa.
Como também pude perceber que o Léo é afeiçoado à literatura portuguesa, dedico-lhe em retribuição O Louco junto a uma concepção de Deus formulada pelo Pe. Antônio Vieira:
DEUS É UM CÍRCULO CUJO CENTRO ESTÁ EM TODA A PARTE
E A CIRCUNFERÊNCIA EM NENHUMA
A segunda dedicatória é para minha querida amiga Liana Cunha, soteropolitana, taróloga e terapeuta holística profissional, com a qual já tive o prazer de trocar aulas de montagem cinematográfica por conhecimentos iniciais em rediestesia e radiônica (!). Agradeço o jogo de Tarô que fizemos juntos - uma honra para mim - em meio a uma festa de amigos na sua despedida de volta a Salvador da Bahia.
Tendo já mencioado o Pe. Antônio Vieira, e pensando em Salvador, é inevitável invocar um excerto de Gregório de Matos e dedicar à Liana o Arcano XV do baralho de Camoin e Jodorowsky, este último também cineasta e tarólogo (afinal, depois dos últimos protestos no país, também ficou provado que "gás de pimenta pra baiano é tempero", né não?):
Demônio:
Se não segues meus enganos,
e meus deleites não segues,
temo, que nunca sossegues
no florido dos teus anos:
vê, como vivem ufanos
os descuidados de si;
cantal, baila, folga e ri,
pois os que não se alegraram
dous infernos militaram
Banguê, que será de ti?
Felicidades nesta volta à tua cidade!
Nenhum comentário:
Postar um comentário