banner

banner

CONSULTAS

CONSULTAS presenciais em Águas de São Pedro e região, ou via Skype/Messenger/Whatsapp: eueotaro@gmail.com, ou ligue (11) 99375-6497.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A MORTE NO PROCESSO INICIÁTICO

Ainda na leitura de "Jung e o Tarô", de Sallie Nichols, vejo que sua abordagem a partir da psicanálise junguiana e os estudos dos arquétipos humanos revela também um entendimento claro e profundo do processo de iniciação religiosa e espiritual.

Entendo por iniciação a lenta penetração sensorial em uma espécie de segredo cosmológico, que não se desvenda em absoluto, mas cujo mistério divino e assombro místico pode se experimentar de diversas maneiras. Parece-me assim a experência do transe, que a fundo passa necessariamente, salvo exceção que não consigo hoje imaginar, por uma experiência de morte.


Ao longo do livro há inúmeras passagens reveladoras desta consciência xamânica da autora, que constrói sua análise influenciada por Jung (que já entendo como estudo obrigatório), mas no capítulo dedicado ao Arcano XIII há 3 trechos que são verdadeiros tesouros neste sentido. 

Vamos a eles

1) "Quem quer que pranteie a amputação de uma reação inconsciente que fez parte dele desde a infância, ou quem quer deplore a perda de alguma rígida projeção que por muito tempo serviu de apoio a um ego vacilante, pode considerar-se abençoado. Será, finalmente, confortado com introvisões mais válidas e com um apoio mais duradouro". 

2) "Não desejar viver é sinônimo de não querer morrer. Vir a ser e deixar de existir são a mesma curva. Quem quer que não acompanhe essa curva permanece suspenso no ar e fica paralisado. A partir da meia-idade, só permanece vivo quem está disposto a morrer com a vida". 

3) "A recusa a cooperar no desmembramento de nosso eu desgastado cria uma paralisação completa no fluxo da vida, que redunda em morte espiritual. Se a demanda do autoconhecimento for desejada pelo destino e recusada, essa atitude negativa pode acabar em  morte verdadeira. A demanda não teria chegado a pessoa se esta ainda fosse capaz de guiar-se por algum atalho promissor".





sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

JODOROWSKY E OS ANIMAIS


Neste último final de semana tive a oportunidade de experimentar pela primeira vez uma técnica de lançamento utilizada por Alejandro Jodorowsky,  e que é descrita e ensinada em seu livro "La Via Del Tarot" (livro ainda sem tradução para o português).

Trata-se de pedir ao consulente, no início da consulta, que este eleja um animal para o jogo. A disposição das cartas deve então ser criada para  representar esquematicamente a imagem do animal. Para além da dinâmica criativa, esta técnica também pode trazer informações preciosas acerca do inconsciente de quem faz a escolha. A simbologia do animal, assim, também deve entrar na interpretação da leitura.

A experiência foi incrível! A primeira pessoa elegeu o gato. Quarto cartas então foram dispostas no lugar das patas (ligadas a vida material e prática, em seu passado e no futuro), depois uma para cada uma das seguintes partes - cabeça (plano mental), orelha posterior (consciente), orelha anterior (insconsciente), coração (plano afetivo), estômago (o âmago do sujeito, ligado ao fogo) e cauda (o que está sendo deixado para trás).

Foi uma leitura bastante importante, e um dos aspectos mais interessantes foi o Eremita ter saído na posição do estômago.


Esta combinação remeteu-me diretamente a narrativa bíblica de "Jonas e A Baleia". Jonas,  que com muita disciplina, espírito e sabedoria, depois de 7 dias no interior do estômago de uma baleia, conseguiu se libertar. De fato, o consulente estava passando por uma prova,  um período difícil de transformação, com muitas dificuldades, mas com a força necessária do Eremita para, ao final, não ser digerido e sim ver-se livre novamente, iluminando seu caminho e os do que o acompanham. De todo modo, a situação toda também está em processo, sendo "digerida".

A segunda pessoa a fazer o jogo elegeu uma águia. Foram também 10 cartas no total. Uma para cada garra do animal (plano material/espiritual no passado e no futuro), duas para cada asa (a da esquerda ligada ao passado, a da direita ao futuro - ao invés de inconsciente e consciente, como preferiu o consulente), uma para a cabeça (mental), o bico como carta que atravessa o plano mental, o coração (emoções), e estômago (força sexual e criativa).

Mais uma vez, uma riqueza enorme de sentidos e possibilidades de interpretação, sempre fazendo associações com a função de cada órgão ou membro da ave . E como no jogo do gato, houve uma casa capital para a leitura. Na garra direita estava o 9 de Ouros, indicando que esta força da águia, que é um animal de visão aguçada, que alça vôos altos e tem enorme capacidade de precisão e ação em seus domínios, está nas mãos do próprio consulente.


Foi um jogo em que o livre-arbítrio esteve muito presente, neste movimento de libertação do passado em direção a um novo futuro. E dependendo das ações, o futuro é promissor, pois na base da asa direita, responsável por toda a força motriz no bater das asas, estava o Arcano XIII, ceifando o velho para dar lugar ao novo.


Alejandro Jodorowsky é tarólogo, e participou de um projeto de restauração do Tarot de Marselha, que ficou conhecido como "Jodorowsky/Camoin". Além disso, o chileno é cineasta e roteirista, e foi autor do roteiro de novelas gráficas para o quadrinista italiano Moebius ("A Garagem Hermética|, um marco nos quadrinhos, entre outros), e dirigiu clássicos do cinema alternativo, como "Santa Sangre", "El Topo" e "A Montanha Sagrada", este último patrocinado pelo ex-beatle George Harrison.

Jodorowsky é sem dúvida uma referência que não se pode ignorar.