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sábado, 28 de abril de 2012

A GRAÇA APRISIONADA



Para os principiantes como eu, uma lição a se tirar é que a Rainha de Espadas, como um arcano menor, estará muitas vezes referindo-se a uma pessoa do sexo feminino. A partir dos arcanos menores há de se considerar sempre se a carta não se refere a uma pessoa em particular. 

Tiro sempre que posso uma "carta do dia", e ontem saiu-me a Rainha de Espadas. Como não estabeleci um entendimento imediato, passei a refletir acerca da personagem desta carta.

A Rainha de Espadas não se apresenta a quem a vê - ela está em posição lateral. Parece comandar a natureza, pois ao mesmo tempo que eleva sua mão, vemos uma tempestade formando-se ao fundo; há um  pássaro que voa, aparentemente fugindo da tempestade. A rigidez da Rainha de Espadas tem expressão na enorme espada em punho, mantida ereta e em contraste com a aparente delicadeza insinuada pela outra mão - aparente porquê na sugestão de um movimento grave, a leveza do gesto apresenta-se medida e calculada, com alguma dose de encenação (não esqueçamos que se trata de uma rainha, personagem aristocrática cuja memória histórica é ligada a rituais de pompa e circunstância). A idéia de "graça", então, encenada no gesto, aparece aprisionada pela autoridade da imagem, não só pela postura lateral e grave da personagem, mas pela borboleta - símbolo de graça e encantamento - presente sob a forma de representações (aparências) na parte inferior do trono e na forma da coroa.

Mais tarde, no decorrer do dia, tive um enorme desentendimento com minha mãe - mais um entre inúmeros (e muitas vezes desnecessários) já ocorridos entre nós. A carta dizia respeito a ela, personagem que marcara meu dia. Obviamente só posso falar destes conflitos e do papel de minha mãe neles a partir de meu próprio ponto de vista, defeituoso ou não: assim, com ela pequenos desentendimentos tornam-se facilmente tempestades abismais, cujo tamanho ela mesma tem o poder de fazer crescer enormemente. Com dificuldades em demonstrar frontalmente o amor que diz sentir por mim, os conflitos que enseja contrariam suas reiteradas auto-afirmações de pessoa sensível e carinhosa - invoca autoridade na experiência de vida, mas que ao contrário do discurso raramente se traduz em sabedoria ao lidar com conflitos. Sua sensibilidade latente, que assenta sobre a borboleta, aparece sufocada por uma rigidez não frontal, lateral e distanciada. A graça encontra-se aprisionada. A borboleta não é viva e é apenas uma imagem em metal e em pedra. A face que se oferece de frente é também imagem - está  igualmente encravada na lateral do trono. 

Pode representar portanto uma pessoa apegada às suas próprias razões, e que pode por isso provocar enormes conflitos. Quem a confronta deve ter em mente que esta pessoa guarda encantos. Conseguir acessá-los é a chave para dissipar a tormenta. Com minha mãe ainda não consegui...







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